segunda-feira, 29 de novembro de 2010

por que haveria de ser


Sentada de pernas cruzadas, como se olhasse um X, Céu se pergunta: o que não haveria de ser tão doce? Se até as nuvens formam sorvetes e gomas, por que não encontro doces palavras para descrever o que me prende? Agora que aprendi a voar, que tateei o invisível, que aprendi a olhar sozinha, que vi as lágrimas se enxugarem, por que haveria eu ter que descrever o amargo, já que o doce é melado por si só? Não, não haveria de ser tão doce o passo deixado sem sentido, o amor despejado com pesar, a canção sem melodia. A poesia pulsa: é livre, é abstrata, é palpável, é bela, é fatídica, é estonteante. Por que haveria eu ter que definir o medo, o caos, o vazio, já que eles não mais me pertencem? Como ousas me pedir para parar agora que aprendi a correr. Como queres que me faça de desentendida agora que aprendi a interpretar. Decifro enigmas, decifro o peso de um verso, mas não consigo decifrar a falta de extensão. Caminho entre montanhas e planícies, de terra molhada e cerrado árido, de curtas e longas estradas. De tão doce faço sol, de tão tenso chuva se faz. Nada se prende, tudo se faz livre. Nada se cobra, tudo se doa. Nem palavras, nem gestos, nem símbolos. Jogados ao ar no céu está. Não se toca o inatingível se nele não quiseres entrar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Texto tão belo,profundo,doce.

Como as suas palavras são maravilhosas e alimentam a alma.

Reflito,mergulho no tempo e no infinito...