terça-feira, 11 de março de 2008

Devaneios


Em seus braços, ela sentiu uma onda de calor. Invadiu sua alma, sem pedir licença. Desamparada de seus devaneios loucos e sórdidos, ela se escondeu por entre o vago e o agora. Luciana sabia o que lhe reservava. As faíscas começavam a perambular no ar. Como que se cuspissem de seu corpo. Mas saíam da lareira. Nas lenhas, labaredas. Quente e vermelha, assim se sentia diante o inesperado. Sem saber pra onde correr se perdeu em seus pensamentos. Olhou ao redor e se viu sozinha, novamente sozinha. No agora de seu tempo lembrou-se de seu rosto juvenil, cheio de vida e inspiração. O tempo foi cruel com ela. Mas não por suas rugas e manchas, mas pelos traços marcados pela saudade e dor. Por que ele se foi? Sempre se perguntou. Não o encontrou nas estradas. Pelas pedras ultrapassou, nos riachos sentou e chorou. Sem compreender, o frio apossou de seu corpo quente. Um arrepio subiu-lhe a espinha. Não sabia de onde vinha tanta incerteza. O sentido de tudo isso? Queria saber mais que nunca porque havia lhe deixado no caminho. Amamos pra sermos abandonados, pensou novamente. Mas o abstrato virou concreto. E no chão ela sentiu seus pés. Seu olhar voltou-se para trás, apenas um vulto, uma sombra. Como o tempo cura as feridas, como ele recupera o sangue derramado e a lágrima escorrida? Nunca obteve respostas. Solitária, absorta em suas dúvidas, olhou pela janela, lá fora viu a vida. O vento soprava calmamente fazendo as folhas dançarem desconcertadas. Um ruído pelas frestas. Ela sentiu conforto. Sabia que num tempo, não muito distante, acharia o que ficou perdido. Deitou-se para esperar a dor passar. E não mais sentiu.

7 comentários:

Eliara Alves disse...

"Ela sentiu conforto. Sabia que num tempo, não muito distante, acharia o que ficou perdido. Deitou-se para esperar a dor passar. E não mais sentiu" (Ana)...

Pois é talves seria um abuso, muita ostentação postar algo depois do que acabei de ler, corro o risco de matar tamanha delicadeza e dor do texto, mas vou ousar, ousar a deixar aqui meu comentario, consegui entre varios devaneios encontrar algo parecido com os teus, mas devaneios de Aninha podem ser considerados como uma viagem, uma doce viagem, qdo diz que o abstrato virou concreto e ai sim sentia-se o chao, foi de tamanha sabedoria sentir este chao. Parabens e que nos leve a varios Devaneios afora, vou de carona. Bj. Lindo demais pra ficar so pra vc. Que bom dividir. Te adoro. Eliara

Marcela Bocalon Rosa disse...

Tô absurdamente emocionada, descompassada e ao mesmo tempo feliz!!Você é a partir de hoje minha escritora preferida, e além de tudo é minha amiga-irmã!! Meu Deus q orgulho de você!!

Aline. disse...

"Amamos pra sermos abandonados..." "
"Como o tempo cura as feridas, como ele recupera o sangue derramado e a lágrima escorrida?"
Aninha, entre perguntas e respostas tembém encontrei um pouquinho de mim.
Seja bem-vinda e parabéns pela sensibilidade.
Um beijão

Toques e Segredos disse...

Com suas palavras simples você foi capaz de ilustrar o mais precioso sentimento e a sua importância de sentir...
Lindo Aninha!!!Já está adicionado como meu favorito...bjos

Anônimo disse...

palavras...quem tem a chave?só quem tem o coração transbordando de emoção e sensibilidade,escrever é dom divino,é saborear o manjar dos deuses,o infinito,é nos tornar mais humanos,é delirar,parabéns pelo mel derramado.... Sua mãe

Anônimo disse...

Suas palavras proporcionaram uma sequência absurda de arrepios em mim, vivo buscando essa leitura da alma, que é sincera, comove e ao mesmo tempo acalenta.
Suas palavras falam por mim, por nós, por todos que amamos.
Faço votos para a maior inspiração, quero poder ter sua companhia através dos textos,uma vez que está longe de mim.
Foi maravilhoso sentir você tão perto.
To encantada, absorta e muito feliz em ler suas palavras. Fragmentos maravilhosos da tua alma. Te amo flor! Thais

Luciana Cecchini disse...

"Mas o abstrato virou concreto"

Assim descrevo o seu talento, amiga!

Ah, adorei ver meu nome aí. Me achei!

Bjo!