quarta-feira, 19 de março de 2008

Nas entrelinhas das cores


Já passava da meia noite quando Clarice conseguiu terminar um importante texto para a próxima edição da revista Atípica, que inclusive lembrou-se que já passara de seu deadline. Cansada, com as idéias ainda cambaleando em seu pensamento, ela não resistiu à tentação de escrever em seu diário. A escrita a consumia e ao mesmo tempo alimentava seus irregulares pensamentos. Rodopiavam em sua mente extraordinária e não lhe davam sossego. Eram muitos, em quantidade incontável, brincavam dentro de sua caixa, indecifrável para qualquer estudioso. Seu diário era seu porto-seguro, onde declarava amores, respondia suas mais sombrias dúvidas e compartilhava pensamentos inerentes e perdidos no tempo. Além de seus desejos eróticos, não muitos, mas que sempre rondavam por sua galáxia chamada cérebro. Mesmo se sentindo sozinha, não admitia querer um parceiro que lhe aprisionasse, lhe arrancasse as forças do fruto proibido. Gostava era de ser livre e em seu diário expor suas aventuras imaginárias. Em seu pequeno quarto, de janelas amplas, que proporcionava um ar fresco a noite toda, Clarice se entregou ao seu pequeno companheiro. Com caneta esferográfica nas mãos, sua preferida no testemunho, começou a rabiscar as primeiras linhas de uma página qualquer;
- Há meu caro, de onde vem o instinto impulsivo em transpor nessas linhas e folhas brancas tamanha sensação de prazer. É aqui, sem cesura e críticas, apenas as minhas, que me liberto e solto todos os meus mais impetuosos suspiros. Transbordo a alma, mesmo sem entender muito bem como fazer isso, apenas arrisco e nesses rabiscos me sustento. Sei que um dia colarei algumas fotografias nessas páginas. Um pouco de colorido, já que pinto suas páginas apenas com a cor azul, não que goste menos, mas precisamos alegrar nossos dias com vermelho, amarelo e rosa. Sem contar o verde, que em seu tom mais fraco remete ao equilíbrio quando nos lembramos dos tapetes divinos. Além do azul Portinari, que nos faz viajar ao mar, ao céu, como pássaros em busca de liberdade e paz. Assim como eles me volto a você como um amigo confidente, fiel. Nunca me abandona e ao meu lado ficará mesmo que cometa erros e deslizes. Não me julgas, pois sabe que os erros são humanos e reconhecê-los um mérito. Me ama, pois sabe que apesar de pequena, meio desengonçada, o que mais vale é o brilho em meus olhos. Me quer, porque como a raposa disse ao Pequeno Príncipe, você parefrasea dizendo que me torno eternamente responsável por aquilo que cativo. Assim sem pormenores, te digo meu caro amigo: por você sou mais inconseqüente, mais coração e menos razão. Por você, escrevo em suas páginas para um dia, quem sabe, cativar mais um amigo, sabendo, nas entrelinhas, quão humana sou, mas quanta capacidade de amar há dentro desse pequeno diário...

8 comentários:

Letícia disse...

Texto bom de ler. Talento vc já deve saber que tem, mas ouvir sempre elogios não faz mal algum.

Bjs...

"A escrita a consumia e ao mesmo tempo alimentava seus irregulares pensamentos."

(Favo de Mel)

Bom que estamos todas unidas nesse movimento de escritoras salvando o mundo. Já tenho a Luci no msn - caso queira me add ...

leticiapalmeira@hotmail.com

Anônimo disse...

Bom demais...
Doce, suave, envolvente. Gostoso. Tudo isso vem de "Clarice".

Agora, quero mais!!!
Beijos.

Luciana Cecchini disse...

Anita, Anita...

Li num ritmo alucinado, pois foi assim que chegou aqui... rápido e permeado de paixão, daquelas alucinantes. Via as cores postadas. Que diário rico..

Olha,vai fundo que está cada vez mais rico, mais maduro.

Sua cara, minha amiga Anita!!!

Bjo,

Luci:)))

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Linda!! Uma tarefa difícil para mim é compreender com exatidão quais sentimentos são estes ou aqueles... será que é admiração, amizade, raiva, mágoa, amor... por isso uma constante sensação de turbilhão interno!!! Você faz isso com uma naturalidade e leveza!!! Escreva sempre, amiga, cuide, cultive este dom!!!
Obrigada pelo mel que nos doa.
Beijos,
Cacá.

Camilla Tebet disse...

Que lindo! Diário é coisa íntima, para pessoas íntimas, para quem tem essa capacidade de olhar para a própria intimidade. além dessa sua capacidade, ainda o faz com belas letras, num texto suave, romãntico, gostoso. Adorei. Adorei.

Camilla Tebet disse...

E tem mais: traga mais do seu diário para cá. Com todas as letras. Será sempre um prazer lê-lo.
Camilla Tebet
www.essepapo.nafoto.net
www.essepapotambem.blogspot.net

Anônimo disse...

Enfim eu entrei e li... li, li, tudo lindooooo, assim como keila disse, realmente sem exagero nenhum.
Você me cativou, parece que conheço outra ana agora...muita mais bonita...

...mas o que seriam das cores sem o amarelo...

beijooooo