segunda-feira, 17 de março de 2008

Reencontro



Era noite quando Alice abriu seu baú. Sem saber o que procurava ela revirou as cartas, fotos e objetos deixados lá. Esquecidos e trancafiados há anos, não sabia ao certo o que encontraria. Uma caixa de boas lembranças ou amargas recordações? Sem se importar muito com o casual desencontro do tempo e espaço, Alice se entregou ao misterioso sentimento do despertar. Com os olhos reluzentes, como de quem descobre um tesouro, viu em seu pequeno baú parte de uma vida deixada pra trás. Mas por quê? Por que me esqueci os instantes e momentos de uma vida de encontros e reencontros. Por que guardei nesta caixa, velha e gasta, uma parte vivida e saboreada? Se perguntou Alice, antes mesmo de folhear alguns esboços de frases não ditas. Agora era tarde, pensou. Uma palavra não dita é como um sentimento sombrio, que não volta mais. Não posso expressar tamanho arrependimento, relutou antes de voltar ao desconhecido. Revirou outros rascunhos, cartas, bilhetes, pedaços de papéis sem cor, sem calor. Olhou mais ao fundo e lá estava. Mas será isso que procurei por todos esses anos? E foi. Uma foto, já amarelada pelos anos escondida dentro de uma caixa, mas que ainda estava viva na alma de Alice. Seu coração lhe trouxe a tona um momento nostálgico. Parou, sentiu que seu peito palpitava, as batidas ficavam cada vez mais intensas. Era ele. Procurou por tantos anos sua imagem, hoje refletida num pedaço de papel. Procurou seu cheiro, suave presente. Procurou embaraçada desvendar seus pensamentos. Queria decifrar sinais, ler o que se passava em sua mente. E por um segundo, o sentiu ali. Em seus braços, em seu corpo robusto e forte, sentiu a segurança que outrora tivera. Feliz, observou seu doce sorriso, seus lábios a aqueceram e seu medo passou. Se envolveu e deixou que aquele prazer tomasse conta de seu corpo frágil. Sabia que aquele reencontro a levaria há um novo mundo, ao tempo que Alice buscou em seu baú. Sem temer se entregou ao sentimento de conforto. A felicidade estava ali. Suas lágrimas escorreram por sua face, mas não eram gotas de tristezas, e sim, de amor. Sim, ela o ama. Ama o jeito que se movimenta. O modo como lhe olha com calma e encanto. Os trejeitos para fazer-lhe uma surpresa. Era ela refletida em seu olhar. Ninguém a quis como ele. O amor, há, como o bem-amado é fruto de uma busca incessante. E ali, ela sabia que sua procura havia terminado. Confortada, encostou-se em seu ombro. Macio, firme, deixou-se levar pela eterna sensação de bem-estar. Tudo fazia sentido. Tudo ali era pra ser vivido. Alice sabia. O reencontro foi inevitável e o amor transbordou qualquer sentido.

3 comentários:

Luciana Cecchini disse...

Bonito. Um baú é sempre uma surpresa. Pode ser um cálice de prazeres. Pode ser uma bomba esquecida.

Bjo, Anita!

keila disse...

LIndo, deu vontade de mexer no meu baú... viajei nesse....
Parabéns..;. beijos

Unknown disse...

Simplesmente a declaração de amor mais linda que já li!!! Linda como você, como seus cuidados, como sua alma!!! Feliz daquele que ganhou seu coração.
Continue, amiga linda, a alimentar nossas vidas com seus mais puros sentimentos!!!
Beijo grande.