quinta-feira, 13 de março de 2008

Segredos


Pela janela as gotas escorriam. Caiam vagarosamente. Gotas, muitas delas. Deslizam pelo vidro, como quem desliza por uma vida. Pequenas partículas, lágrimas, que escorrem com um semblante transformado-se em plenitude. Um deslumbre para ela. Pequena, mas notável perante o que vinha por vir. Elisa olhou o relógio e viu que as horas não estavam a seu favor. Esperou, sábia, com a sabedoria do tempo, de que quem espera por mais um dia com a alma pura. E foi com essa pureza em seu peito, ainda sentindo as verdades da vida que, mesmo pequena, mas grande n’alma, se transformaria em uma, não mais que uma, tentativa. Foi assim que Elisa olhou para dentro e viu um instrumento em seu peito. Daqueles que ela, ainda pequena, sentia tocar-lhe como quem toca n’alma. E veio, com as notas da flauta doce, na penumbra escura da noite, o sentimento. Sentiu o que estava ao seu lado, um suave violino. Cordas, uma mistura de símbolos, notas e cores. Foi assim, que mesmo sentindo-se pequena, Elisa olhou para dentro e viu que o mundo sorria pra ela. Sem um porque olhou para trás e percebeu. Num pequeno instante, apenas em um diálogo com os anjos viu, que o som da alma tocaria enquanto sentisse. Sem pestanejar, observou que muitos tons ainda não se formariam por estar só. Foi nessa melodia, de chuva e deslumbre, uma eterna saudade daquilo que outrora tocara nela, que Elisa sentiu então um puxão. Pensou por alguns minutos. “Acordo, ou vivo nesse eterno sonho que me transforma em um instrumento que nunca mais sentirei”. Sem notas, nem cordas, apenas a lembrança de que por um segundo lhe elevou ao sentido mais alto das sinfonias, como quem toca para os deuses uma melodia que nunca mais seria Elisa. E assim percebeu que as gotas que escorriam pelos vidros a transformaria em um enorme enigma. Sem decifrar o que sentia, decidiu esperar.

*Neste espaço, onde tento tocar com as palavras o coração, ofereço por meio de algumas imagens, ilustrar a história e os desejos implícitos de quem carrega a sensibilidade: foto Tânio Marcos

5 comentários:

Luciana Cecchini disse...

Tá produzindo pra caramba, hein?! Vai fundo, amiga.

Bjo!

Anônimo disse...

caramba!!!doce é sentir as palavras com som de melodias...Gostei e peço-lhe continue .Bjs da Tula

Unknown disse...

Há pessoas que nascem com o dom das palavras, você é uma delas, suas imagens são maravilhosas, conseguimos, através delas, sentir a beleza da vida. Parabéns, continue tocando o coração das pessoas com suas palavras.
Beijos, Marisa.

Anônimo disse...

Sensibilidade. Amor. Visão da vida. Descobertas. Aprendizado. Tudo junto, em palavras de puro sentimento. Lindo!
Beijos,
Fernanda.

taniomarcos disse...

Poesia pura, é o q se pode dizer não só do que ela escreve mas, dela principalmente, que, com suas palavras nos encanta e faz voar a imaginação. Continue assim, essa sensível e maravilhosa figurinha que você é! Obrigado pela homenagem! Beijo!